Impertinências...[1]
Impertinências
minhas...
O
homem sofre com a chegada da velhice as mais decepcionantes revelações. Não
raramente o liberal se torna avarento; o aparentemente morigerado e de costumes
puros, relaxa-se a ponto de não controlar palavras nem ações. Até insultos da
inveja ele tem de suportar. Assalta-o uma inveja descomedida dos moços. Daí as
incompreensões e censuras. Rejuvenescer para ele é constante obsessão. De
hipócrita torna-se cínico, pois para ele tudo é natural...
Quando
moço, eu via tudo cor de rosa: todas as mocinhas muito puras; todos os rapazes
muito bem intencionados. Todos os padres, homens de bem, honestos, interessados
somente nas coisas da Igreja, zelosos pelas coisas de Deus. As freirinhas para
mim eram todas umas santas. Incapazes de um gesto agressivo, de uma ação feia,
dignas de todo respeito e consideração. Mesmo as das
santas-casas-de-misericórdia. As mães de família sempre me pareciam honestas e
respeitadoras do nome do marido. Os maridos, na minha ingenuidade, eram sempre
perfeitos cavalheiros, incapazes de atos desabonadores, canalhas. Todos os
portadores de títulos de profissão liberal, como médicos, advogados,
guarda-livros, todos cumpriam integralmente o juramento da colação de graus. Até os comerciantes para mim eram
honestíssimos. Todos os homens eram meus irmãos.
Anos
vindo e dilapidando meu frontal, branqueando bigodes e barba. Eu mesmo sofrendo
os desgastos da idade, não somente no físico como no intelectual e moral, ao ponto de reconhecer hoje, perfeitamente,
que vida longa não traz nenhuma vantagem ao homem, senão em casos raríssimos.
A
quantos sacerdotes ou professores, julguei incapazes de certos gestos, modos de
ver que a mim repugnavam como menos corretos, perfeitos, e hoje,
principalmente, com as “inovações” do pós-concílio, terríveis revelações a
todos decepcionam.
Declarações
à imprensa de bispos e padres me têm feito estarrecer. Clérigos que, assim, se
me revelam despidos de qualquer espírito eclesiástico, homens mais profano que
qualquer membro do laicato.
Eu
conheci, faz alguns anos, um sacerdote que me parecia muito menos padre que sua
irmã... E como este (que é com Deus), muitos padres têm havido neste planeta.
Depois, então, que deixaram de lado a batina para vestir modestos slacks[2]
que proscreveram a tonsura eclesiástica e, assim, podem freqüentar todos os
meios ambientes) ainda recitam o breviário abreviado? Chego até a duvidar! e
baniram atitudes que tão bem os caracterizavam, as coisas se tornaram
insuportáveis, pois até o canto litúrgico recém adotado irrita pela sua
descaracterização do sagrado.
Chego
agora ao que nunca supus chegasse: a desejar que a Santa Sé acabe de vez com a
medida disciplina do celibato, porque essa coisa “celibato” tornou-se inanis
et vácua, [3] na
mais lídima expressão bíblica, para muitos “celibatários”.
Contavam,
há oitenta anos, que um vigário velho da terra de meus avós subiu certo dia ao
púlpito de sua matriz com voz repassada de amargura, assim falou: “- Meus
irmãos: Foram dizer ao sr. Bispo de Olinda que vivo amasiado e que tenho sete
filhos. Mas isto, além de grosseira inverdade, é uma infâmia. Eu tenho é
dezoito filhos”....
Anedota
irreverente ou fato verídico, o homem é sempre o mesmo. Anseia pela perpetuação
do seu ego através da descendência, como é levado a da às suas glândulas
endócrinas, o destino que elas têm. Hoje, quando me aproximo de um sacerdote
(embatinado ou desbatinado), sem querer, me confranjo em beijar-lhe a mão ungida nos santos óleos, no
dia memorável de sua ordenação, pois, uma dúvida terrível me atravessa o
cérebro, como aziago relâmpago: Será este um sacerdote segundo o coração de
Deus ou, desgraçadamente, um homem dominado pela ambição do dinheiro e escravo
do sexo como o comum dos mortais? Sim, porque a avareza e o relaxamento dos costumes
são suas grandes tentações. E o enfraquecimento da fé.
A
velhice torna o homem cético. E isto é um grande mal. Envelheci. Hoje – repito
– chego a desejar que se permita aos padres e bispos católicos casarem-se, se
assim desejarem. Com tal permissão havíamos de ver quantos padres e quantos
bispos, por esses brasis e alhures, abraçariam o estado matrimonial. Chegariam
à legião? Talvez chegassem à legião, embora a sabedoria popular diga que “casar
é bom, não casar é melhor”. Que “mulher é charada eterna que ninguém decifrará.
Nada há melhor que ela, mas, pior também não há.” (Quadrinha popular)
Ninguém é obrigado a
escolher melhor... Eu mesmo já me casei duas vezes e, se muito tenho sofrido,
muito mais tenho feito sofrer.
Casem, minhas gentes, casem
e verão. Talvez um dia “passe” o divórcio para os arrependidos. Isso de ser o
divórcio contra a doutrina cristã, tanta outra coisa é contra a doutrina
cristã...
Eu continuo anti-divorcista.
Para mim ele seria dose cavalar, mesinha que levaria cedo ao túmulo. Se minha
vida é ruim com ela, muito pior seria sem ela...
Continuo a favor da
manutenção do celibato eclesiástico pelas altíssimas razões que o implantaram e
ainda – observe-se – na foram removidas.
Para onde vamos? Não sei,
ninguém sabe, quando num país, que se diz cristão, a homossexualidade tem a
tutela da lei...Que será de nós? Com o que vem ocorrendo nos nossos arraiais,
nhá muita gente abismada, mas certamente, ninguém mais abismado que Paulo VI.
Muito mais do que se passa no Vietnam, deve afligi-lo o que se passa na Barca
de Pedro. (Só se eu estiver redondamente enganado).
É chegada a hora de retirar
a máscara do rosto de muitos que a usavam para “ganhar a vida”.
Ah! Velhice desabrida e
cruel... Por que tanto me fazes sofrer?
Nenhum comentário:
Postar um comentário