terça-feira, 19 de junho de 2012

Apresentando



    Honório Ribeiro Dantas nasceu em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte em 1907 no dia 25 de maio de e faleceu em Natal em 1980 no dia 10 de fevereiro.
    É comum, na família, se dizer que se hoje vivesse, ele muito produziria com a nossa tão atual ferramenta chamada informática, e muito difundiria seus pensamentos com a Internet. Não teve a oportunidade de viver nossos dias, mas não se deixou abater pelas dificuldades do seu tempo, e escreveu, compôs, linotipou e imprimiu muitos de seus escritos em jornais e livros onde deixou bem claro o seu pensamento e suas emoções. Comecei tarde a ler os escritos de meu avô. Nada mais natural que isso acontecesse dessa forma, uma vez que ele não escrevia para crianças. Seus escritos, publicados ou não, eram crônicas nas quais ele exibia bem o que passava no seu íntimo e em sua mentalidade embotada, como ele mesmo dizia. Opiniões geralmente ácidas como ele. Não obstante de ele ser uma pessoa amorosa, não dispensava uma dose – às vezes exagerada – de crítica ao que considerava errado ou destoante do caminho correto. Era de paixões irascíveis. 
    Em seu livro O Facho,(1965) escreve sobre um encontro que teve com João Mohana, e expõe: “quando aprecio e amo, amo e aprecio sem medida, com cegueira. Capaz de fazer maus bons, no meu conceito”.Em 1957 escrevia uma crônica intitulada “Simões Baruncho” onde expunha sua alegria ao descobrir na biblioteca do Seminário Provincial de São Paulo, em 1917, um livro intitulado Centúria Métrica de sonetos sobre a Paixão, Morte e Sepultura de Jesus Cristo. Havia sido escrito por um presbítero, o padre Manoel Simões Baruncho no ano de 1745. Incomodou-lhe, deveras, o estado lastimável do exemplar que encontrara, uma vez que estava já roído por traças. Não o impediu de anotar os sonetos. De caneta em punho e caderneta deu-se ao trabalho, hoje facilmente superável por uma máquina copiadora, de copiar cada soneto que lhe dava prazer em ler. Frustração enorme lhe acometeu por não poder ter tempo de concluir seu trabalho. Fora aconselhado a deixar o Seminário por iniciativa de seu mentor, o Padre Paulo de Tarso Campos, então conselheiro espiritual do Seminário. Lamentou por toda a vida não ter podido ler e deliciar-se com os sonetos que lhe faltaram copiar. Dos cem sonetos da obra, aborrecia-se por não ter conseguido copiar quinze. Hoje, num simples toque do teclado temos às nossas mãos a obra completa que ele tanto desejou. Veja a Centuria Metrica aqui.
    Em muitas de suas crônicas, estavam a Igreja, a religião e as principais personagens desse mundo, quais sejam padres, bispos, arcebispos e fiéis. Essa foi a tônica de sua vida, afinal. Discorreu muito sobre relacionamentos conjugais e sociais. Dizia ter vício na leitura, mas ao que parece, a escrita não lhe era menos prazerosa. Escreveu durante anos. Décadas para ser mais justo. Seus livros tinham como título, sugestivos fenômenos luminosos, que ele queria que se transformassem em guias para seus leitores. O Facho (1965), Vela de Sebo (1965), Lume de Palha e Áscuas (1969), A Sombra, foram alguns. Outros foram explícitos no seu intento: Em Prol da Igreja, Do Sacramento, da Ordem e Seu Ritual (1952) sob o pseudônimo de Miles Christi e O Antístete, Sua Tarefa e Seus Auxiliares (1962) com diversas partes escritas na década de 30. Um outro, intitulado Últimas Crônicas teve data de 1970. Escolhi umas tantas crônicas encontradas em seus diversos livros. 
  Ao longo de sua vida foi conservador de seu pensamento, mesmo quando se considerava medíocre e tacanho. Assim era ele. Vivia a vida rememorando a cada novo dia, os bons e maus momentos vividos nos dias passados. Em Lume de Palha e Áscuas ele escreve: “A memória infantil é um escrínio(*) virgem onde se acumulam com fidelidade todas as emoções da meninice. É a matriz da saudade”. Caso tenha mudado ao longo de décadas de vida foi para se conscientizar que fora muito condescendente com alguns homens e mulheres que fazem o clero. Desiludiu-se e frustrou-se por ter acreditado que eles eram dignos de fé. Nem todos o são. Ele descobriu isso e muito se magoou com tal descoberta. 
  Não acaba por aqui sua história. Na verdade ela continua através de suas criações. Seus filhos, netos e todos os outros descendentes e seus livros que mantém seu pensamento inquieto e perspicaz ao alcance de qualquer pessoa. É uma vela de sebo que, mesmo fraca e fumarando mais que iluminando, continua acesa.
(*) Escrínio -  Armário ou cofre para guardar papéis e utensílios de escrita; escrivaninha.

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