A referida igreja, atualmente.
Carta ao Arcebispo[1]
(O destinatário deu o “calado”
como resposta. Respeito a omissão e a fuga do diálogo. Poupo-me trabalho sem
ganho. Tendo prestado por vezes meus serviços, nunca recebi um convite para um
café no seminário... Ah! os nove leprosos do Evangelho!)
Permita-me sair dos arraiais onde
vivo na sombra do mais profundo anonimato, para sugerir uma medida que a mim –
pobre de mim! – me parece convinhável. É ao mesmo tempo um pedido: feche a
igreja de S. João Batista da Lagoa Seca. Interessante aquela matriz porque é
situada no bairro de minha predileção, onde possuo ainda casas e um bom
terreno, tendo lá vivido vários anos. Lá moram dois filhos meus ainda imbuídos
do espírito religioso que lhes incuti na primeira infância: Pedro Marcelino e
Maria José. Esta casada com Nilton Cunha, gerente da agência do Banco da
Lavoura daí. Ela morou vários anos em Garanhuns e foi freqüentadora assídua do
Santuário de N. Senhora do Perpétuo Socorro, sob a direção dos Padres
Redentoristas, que desenvolvem lá apostolado mariano.
Pois, bem. Ela e Pedro Marcelino,
hoje freqüentam a igreja matriz da Lagoa Seca, a fim de ouvirem missa
dominical. Contaram-me os assuntos ventilados em homilias do Padre Pio, o qual expõe
doutrina com ranço herético, difundida talvez, na forma e no fundo, pelo famoso
Catecismo Holandês. Esse pobre “pastor” nada entende das veneráveis tradições
portuguesas e brasileiras e nenhum tato revela no manejo com a “gentinha” da
Lagoa Seca, a quem escandaliza com a sua doutrinação.
Certa vez, na sala da agência dos
correios e telégrafos da Cidade Alta, falando sobre a encíclica do controle da
natalidade, ele disse: “o Papa faz as besteiras dele, e depois...” Minha irmã,
Dirce Ribeiro Dantas, ouviu o comentário desrespeitoso e não gostou. Eu mesmo
assisti à missa das 6:00 horas, domingo, dia 27 de julho, e ouvi assertivas
desse jaez: Que não havia pecado original... Que não existem demônios, nem
anjos da guarda... Crer nisso é infantilidade.
Afirma que pedir a benção aos pais é
tolice mui brasileira. Ele mesmo nunca tomou benção a seus pais. Já faz em sua
paróquia a tal confissão comunitária, como se, para o perdão dos pecados
veniais, não houvesse os sacramentais... Para pecados graves (quem os não tem
numerosos?) serve uma confissão comunitária, sem arrependimento nem propósito?
Que ainda este ano vai haver radical modificação na liturgia da missa,
inclusive no que diz respeito às espécies sacramentais. (A hóstia será pão
comum?) Certamente qualquer forma que tenha o pão ázimo e, sendo puro o vinho,
não vejo como não serem dignos de consagrados. Mas, suas doutrinações, mesmo em
outras oportunidades, não hão de fugir ao estapafúrdio.
Antes da benção litúrgica do fim do
culto, dirigiu-se ao público para esclarecimentos. Disse, então, que o padre
Fulano deixou o sacerdócio e casou com mulher casada e vive em tal lugar. Que
padre Beltrano não deixou o sacerdócio, mas que está em tratamento de saúde na
Holanda. Que o irmão leigo, Sancho, casou-se também com mulher casada e vive em
Belém do Pará... (Todos serviram na infeliz Lagoa Seca.) Ainda afirmou que,
semanalmente, 600 padres abandonam o sacerdócio para viverem civilmente. (Não
disse, porém, quando ele mesmo deixará o ministério para casar com uma
mulherzinha qualquer).
Dom Nivaldo, francamente, em que
pode tudo isto edificar a “gentinha” da Lagoa Seca? Não lhe parece que alguns
padres estão se protestantizando, ou entraram em dolorosíssima crise de fé?
Vaticinou que dentro de seis anos (o
prazo é dele) nenhum padre viverá mais do altar. (Não vejo nada de indignidade
no trabalho mesmo manual). Mas, reconheço que, rezando ajoelhado diante do
Santíssimo, seria melhor. Que uns serão bancários, outros funcionários
públicos, (menos os estrangeiros, porque a lei não lhes faculta), outros,
professores particulares, muitos serão operários, comparecendo apenas aos
sábados e domingos para os atos do culto. Disse que a única solução era o
fechamento de todos os seminários, também os religiosos, donde se conclui que
os raros futuros levitas doravante serão sistematicamente “formados” no olho da
rua, em íntimo contato com desajustados e marginalizados, o que redundaria em
profundo conhecimento do povo e das suas necessidades...
Ora, se no passado, era deficiente a
instrução e educação dos seminaristas, como será de futuro? Mas, convenhamos, a
face da Igreja, nestes dias, deve tomar as feições da face mortuária do
Salvador. Nem sou capaz de negar a minha colaboração neste SACRILÉGIO;
Gravíssimos são os meus pecados.
Voltando ao ponto de partida, melhor
é ter uma paróquia vaga do que preenchida por um “Padre Pio” qualquer. Se os
jornais divulgarem hoje que Paulo VI está chorando lágrimas de sangue, de
pronto eu acreditaria. Não sou filho de profeta. Menos ainda o sou eu mesmo,
mas afirmo, pela experiência que tenho, quanto mais concessões se fazem à
besta, que se encastela no homem, (aqui seria no padre), piores eles ficam e
piores vão ficando as cousas. Logo mais serão eles os que hão de exigir a
implantação do divórcio?...
Choremos com Paulo VI...
Jamais fui ou serei contra providências papais... Mas, que hoje existem
alguns bispos romanos e muitos padres católicos tão protestantes como Lutero ou
Calvino, isto cá me parecer uma verdade inconcussa, Como, frequentemente, o
homem “tresvaria”, pode até ser que eu esteja mentindo ou laborando em erro, ou
não haja apanhado bem o pensamento do "pastor" da Lagoa Seca. Assim,
acredito que o Sr. Arcebispo do Natal faria bem em mandar proceder as
sindicâncias, junto àquele vigário e seus auxiliares, a fim de apurar toda a
verdade, e poder tomar a prudente medida que se impõe. Se for o caso do Padre
Pio estar acobertado de razões, pediria eu a caridade de uma pronta resposta
com a súmula das "VERDADES ATUAIS" e a relação das "VELHAS
ABUSÕES" do tempo de Pe. João Maria, Pe. Agnelo Fernandes, Cgo. Luiz Monte
e Mons. Joaquim Honório.
Antecipadamente, agradece Honório Ribeiro Dantas.
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